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Capítulo 1
Dr. William S. Sadler e Dr. Meredith Sprunger


História dos Documentos de Urantia
De Larry Mullins
Com Meredith Justin Sprunger

Traduzido generosamente por
Francisco Santos de Oliveira
Dr. William S. Sadler e Dr. Meredith Sprunger
    1.1  Livro intitulado "A Mente em Desordem"

     EM DEZEMBRO DE 1955, o Reverendo Edward Brueseke, Pastor da Igreja Unida de Cristo de Zion, Bend do Sul, Indiana, entregou ao Dr. Meredith Sprunger uma cópia de um livro recém-publicado. A edição de 1955 do Urantia Book era impressionante em tamanho, contendo mais de 2.000 páginas e um milhão de palavras contidas dentro de suas capas de azul profundo.

     "O Juiz Hammerschmidt deu-me este livro", disse o Dr. Brueseke. "Alguns homens de negócio pensam que é uma nova Bíblia." Ele e sua esposa sorriram enquanto Meredith segurou o massivo volume em suas mãos e o abriu. Meredith folheou as páginas do Índice. Os alegados autores dos vários 196 Documentos que compunham o livro era o que desafiava a sua credulidade, mais do que os títulos dos Documentos. O segundo Documento era intitulado: "A Natureza de Deus" por um "Conselheiro Divino". Outro era intitulado : "O Universo de Universos" por um "Perfeccionador da Sabedoria." Outro: "Personalidades do Grande Universo" supostamente da autoria de "Um Mensageiro Poderoso". Estes foram bastantes para desinteressá-lo, considerando-o burlesco.

     Meredith leu em voz alta uns poucos dos títulos e autores para sua esposa, Irene, sentada próximo dele. Em seguida todos eles esboçaram um sorriso gentil acerca da ingenuidade do Juiz Hammerschmidt e fecharam o livro. Contudo, ambos os ministros e suas esposas mantiveram respeito pelas contribuições do Juiz Louis Hammerschmidt para a Igreja de Zion. Ele era um estimado leigo da maior Igreja Unida de Cristo. O Juiz Hammerschmidt fizera a contribuição de trazer um Hospital Infantil para Benda do Sul, e doara uma capela para o Elmhurst College.

     Contudo, não parecia haver uma forma eufemística de colocá-lo, The Urantia Book devia ser alguma espécie de engano. O Dr. Sprunger pôs o livro de lado e considerou que o vislumbre que dele acabara de ter em dezembro de 1955 seria o último. Ele estava errado.

     Cerca de um mês mais tarde, o Dr. Sprunger, que era Vice Presidente da Indiana-Michigan Conference Board, devia pegar o Juiz Hammerschmidt e conduzi-lo para o encontro de janeiro do conselho em Jackson, Michigan. Durante a viagem de duas horas e meia, o Juiz mencionou cuidadosamente sua tentativa de investigação do Espiritualismo.

     Hammerschmidt tinha perdido sua esposa há cerca de uma década e, em sua aflição, ele se voltara para a prática do Espiritualismo. Não ficara impressionado pelo que descobriu. Ao ver que o Dr. Sprunger não ficava nem um pouco perturbado com uma discussão aberta sobre tais coisas, o Juiz atreveu-se a comentar: "Diga-me, eu adquiri um livro que eu gostaria que você lesse e me dissesse o que pensa a respeito." O Dr. Sprunger manteve os olhos na estrada e na fria paisagem de janeiro em frente. Ele sabia o que estava vindo. Não querendo, contudo, ferir os sentimentos do Juiz, Meredith respondeu: "Muito bem, Juiz, envie-o para mim."

     Em aproximadamente uma semana, um pacote foi entregue na casa de Sprunger, contendo The Urantia Book. Durante os meses subsequentes, o Dr. Sprunger fez diversas tentativas de ler alguns trechos da extensa obra.

     De sua avaliação provisória dos Documentos de Urantia, o Dr. Sprunger pensou que o uso de nomes esotéricos pelos autores devia indicar que os Documentos representam alguma forma de Teosofia. Ele até mesmo levou-o consigo nas férias daquele ano, mas não conseguiu interessar-se o bastante pelo material, para ler muito.

     Setembro de 1956 chegou, e The Urantia Book não tinha sido nem mesmo parcialmente lido. O Dr. Sprunger compreendeu que ele estaria se encontrando com o Juiz Hammerschmidt em outubro, e se sentiu obrigado a ler algo para livrar-se do livro. Decidiu ler uma pequena série de Documentos e dizer sinceramente ao Juiz o que ele pensava do material. Por isso o Dr. Sprunger começou a examinar o índice outra vez.

     Enquanto passava uma vista de olhos pelo índice, Meredith lembrou que o livro tinha uma extensa parte dedicada à "Vida e Ensinamentos de Jesus". Ele conjeturou que com sua prática teológica e acadêmica, ele poderia seguramente fazer um resumo desse material. Ele tinha lido previamente outras tentativas, tais como o Evangelho Aquariano, de retratar os primeiros anos da vida de Jesus. Estórias apócrifas sobre Jesus moldando pássaros de barro e em seguida trazendo-os à vida não o impressionaram. Portanto, com a intenção de rapidamente refutar o material, o Dr. Sprunger começou a ler os registros dos Documentos de Urantia acerca da vida de Jesus. Não encontrou aquilo que esperava encontrar.

     Meredith ficou gradualmente cativado enquanto lia. Os Documentos tinham o toque da historicidade razoável, talvez mesmo autêntica. À medida que a narrativa prosseguia para a história de João Batista e se tornou paralela aos registros do Novo Testamento, o Dr. Sprunger ficava profundamente impressionado. A colorida e vívida redescrição da vida do Mestre se desdobrava, às vezes levando o Dr. Sprunger às lágrimas. Quando ele fechou o livro sobre o Documento final: A Fé de Jesus, Meredith concluiu que os registros de Urantia se harmonizavam com as conhecidas realidades do Novo Testamento. Mais do que isso, ele acreditava que eles compunham o mais profundo e inspirador livro sobre a vida e ensinamentos de Jesus jamais publicados.

     Devido à alta qualidade da Parte IV - a descrição de 700 páginas da Vida e Ensinamentos de Jesus - o Dr. Sprunger subitamente ficou intensamente motivado a ler o resto do material. Começando com a Introdução, Meredith leu o restante dos Documentos de Urantia. Quando tinha terminado, ele compreendeu que os Documentos de Urantia ofereciam a pintura mais abrangente e integrada de religião, filosofia e ciência que ele jamais lera. Repentinamente, tudo que ele jamais aprendera era rearranjado e fundido com novos conceitos numa formidável e assustadora síntese.

     O Dr. Sprunger ponderou este imenso novo paradigma de fatos por algum tempo. E pensou: "Se isto não é uma pintura autêntica da Realidade, é o esboço do que deveria ser!"

     Meredith entrou em contato com o Juiz Hammerschmidt para descobrir onde ele tinha adquirido o livro. O Juiz, deleitado com o interesse de Sprunger, informou-o de que um amigo de nome W. H. Harrad lhe tinha dado o livro. Mr. Harrad era um bem-sucedido homem de negócios, e o co-fundador da National Standard Company. Também era membro de um grupo em Chicago que tinha de algum modo adquirido originalmente os Documentos de Urantia.

     Um encontro para almoçar foi arranjado. Mr. Harrad explicou que o líder do grupo que tinha publicado The Urantia Book era o Dr. William Sadler. O Dr. Sprunger ficou surpreso. Ele tinha conhecimento de William Sadler por sua reputação. O Dr. Sadler tinha estudado no ultramar com Freud, era também um autor prolífero em seu campo e um docente universitário. Meredith tinha amigos que haviam feito o curso do Dr. Sadler no Pastoral Counseling at Mc Cormick Theological Seminary [Conselho Pastoral do Seminário Teológico McCormick].

     Mr. Harrad declarou que ele queria fornecer cópias de The Urantia Book para alguns dos colegas ministeriais do Dr. Sprunger na Igreja Unida de Cristo. E expediu um cheque para pagar uma dúzia de livros e entregou-o ao Dr. Sprunger. Posteriormente, o Dr. Sprunger deu a doze dos seus colegas ministeriais uma cópia de The Urantia Book. Todos exceto um desses jovens ministros (que admitiu que não lera o livro) ficaram tão impressionados com o material quanto o Dr. Sprunger.

     Seguiu-se uma profunda revisão de estudos do livro e suas possíveis origens pelo grupo ministerial. Quando o Dr. Sprunger revelou para o grupo quão pouco ele tinha aprendido de Mr. Harrad acerca da origem do livro, o grupo começou a estudar os livros escritos pelo Dr. Sadler como parte de seu projeto de pesquisa. Eles descobriram material altamente relevante num dos livros de autoria do Dr. Sadler: The Mind at Mischief [A Mente em Desordem], Funk and Wagnalls, 1929. O subtítulo era: "Tricks and Deceptions of the Subconscious and how to Cope with Them". [Artifícios e Decepções do Subconsciente e como Enfrentá-los]

1.1  Livro intitulado "A Mente em Desordem"

     Dentre todos os seus volumosos escritos principais, o Dr. Sadler menciona o processo que eventualmente levaria à materialização dos Documentos de Urantia em apenas um livro simples, com um ano de publicação. Ao tempo em que escreveu "A Mente em Desordem", o Dr. Sadler era conhecido por ser um influente desmistificador de fenômenos psíquicos. O próprio livro é uma poderosa refutação de todos os processos conhecidos envolvendo consciência humana marginal que produz "Mensagens" do "mundo dos espíritos". Na introdução ao livro, Robert H. Gault, Ph. D. e Professor de Psicologia na Northwestern University escreveu:

     "Os psiquiatras de nossos dias estão nos mostrando que no segundo plano das personalidades existem poços de memórias latentes que podem responder, literalmente em grande escala, pelos fenômenos de sonhos, escrita automática, `comunicações espíritas' e muitos outros fenômenos ligados à histeria, à dissociação, e outros estados psíquicos anormais3."

     Em "A Mente em Desordem" o Dr. Sadler assumiu a posição de que, em sua experiência, todos os fenômenos psíquicos caem numa de três categorias: (1). Auto-decepção. (2). Doença emocional. (3). Fraude. Neste livro ele apresentou história de caso após história de caso para dar suporte a esse modo de ver. Contudo, os ministros encontraram uma minúscula falha em sua área profissional, na página 332:

     "Talvez esta declaração devesse ser qualificada acrescentando-se que talvez haja uma ou duas exceções a esta classificação geral dos assim chamados médiuns de transe e psíquicos. Muitos anos atrás eu tomei conhecimento de um fenômeno dessa espécie bastante extraordinário, o qual tem sido meu privilégio observar periodicamente desde aquela época até a atual, e algum dia espero descrever mais completamente este caso: mas me apresso a dizer que em nenhuma das minhas observações desse indivíduo e das peculiares experiências do período noturno associadas, jamais houve qualquer coisa que apontasse em direção ao espiritualismo. Na verdade, os contatos deste indivíduo com as alegadas forças, quaisquer que fossem, que dominavam em tais casos, eram sempre, da maneira mais positiva, antagonistas a, e condenatórias de, todas as crenças ou tendências associadas com a idéia de retorno dos mortos para participar nos negócios do mundo dos vivos4."

     Uma nota de rodapé para este parágrafo levava o investigador para um apêndice no fim do livro. Aqui eles descobriam uma bastante mais detalhada expressão de desaprovação, escrita pelo Dr. Sadler. O Dr. Sadler menciona dois casos nesse apêndice, só um dos quais ele foi capaz de investigar. Foi sobre esse caso que ele se estendeu em profundidade. Parecia que os ministros haviam encontrado o fio que procuravam:

     "A ... exceção tem a ver com um caso bastante peculiar de fenômeno psíquico, que eu me encontrei incapaz de classificar, e que gostaria muito de narrar mais completamente; não o posso fazer aqui, contudo, por causa de uma promessa que eu me sinto sob a obrigação sagrada de manter. Noutras palavras, eu prometi não publicar este caso durante a vida do indivíduo. Espero vir a conseguir uma modificação daquela promessa e ser capaz de relatar este caso mais completamente por causa dos seus aspectos de interesse. Fui levado ao contato com este caso no verão de 1911, e o tenho tido sob observação mais ou menos desde então, tendo estado presente a provavelmente 250 seções noturnas, muitas das quais foram assistidas por um estenógrafo que fez volumosas notas."

     Para a maioria dos leitores do Livro de Urantia isto é agora um parágrafo muito familiar. Contudo, nos anos setenta e oitenta era algo muito raramente visto. Eu me lembro de tê-lo visto pela primeira vez por volta de 1975. Foi na casa de Berkeley Elliot, da cidade de Oklahoma. Berkeley tinha sido uma leitora quase desde que o Livro de Urantia fora pela primeira vez publicado. Ela era uma boa amiga de Bill Sadler Jr., o filho do Dr. Sadler, que muitas vezes visitara o grupo de Oklahoma nos fins dos anos cinquenta e início dos sessenta. Aconteceu de eu puxar naquele dia, de uma das prateleiras de livros de Berkeley, um volume intitulado The Mind at Mischief. Eu lembrava de Clyde Bedell me falando uma vez do Apêndice daquele livro, e como ele continha uma referência a um indivíduo conhecido apenas como o "sujeito adormecido". Quando por fim fui capaz de ler aquelas palavras do Dr. Sadler, os cabelos atrás do meu pescoço se eriçaram. Era tão raro, naqueles dias, ver algo como aquilo. Material tal como aquele em The Mind at Mischief era considerado secreto, e apenas uns poucos especiais estavam inteirados do seu conteúdo. A narrativa continuava:

     "Um estudo cabal deste caso convenceu-me de que não se trata de um transe ordinário. Enquanto o sono parece ser de tipo bastante natural, é muito profundo, e até aqui jamais fomos capazes de despertar o sujeito quando nesse estado; mas o corpo jamais fica rígido, e a ação do coração nunca se modifica, embora a respiração esteja algumas vezes marcadamente com interferência. Este homem está completamente inconsciente, inteiramente esquecido do que acontece, e, a menos que lhe seja dito subsequentemente, jamais sabe que tem sido usado como uma espécie de escritório de compensação para o ir e vir de alegadas personalidades extra-planetárias. Na verdade, ele é mais ou menos indiferente a todos os procedimentos, e mostra uma surpreendente falta de interesse nesses assuntos, quando eles ocorrem de tempos em tempos."

     Embora isso possa parecer chapéu-velho para muitos Urantianos atuais, deveríamos lembrar que isto pode ser a mais completa descrição dos primeiros contados que o Dr. Sadler jamais escreveu. The Mind at Mischief foi publicado em diversas edições em 1929, e depois disso, Clyde me disse que a referência foi eliminada. Segue-se o parágrafo mais alarmante:

     "De nenhum modo são essas visitações noturnas semelhantes às sessões associadas com o espiritismo. Em nenhum momento durante o período de observações de dezoito anos houve uma comunicação de qualquer fonte que proclamasse ser o espírito de um ser humano falecido. As comunicações que foram escritas, ou que tivemos a oportunidade de ouvir serem pronunciadas, foram feitas por uma vasta ordem de pretensos seres que proclamavam vir de outros planetas para visitar este mundo, para fazer uma parada aqui como visitantes estudantes, para estudo e observação quando estavam a caminho de um universo para outro ou de um planeta para outro. Estas comunicações as mais das vezes têm origem em pretensos seres espirituais que dão a entender que foram designados para este planeta para cumprir deveres de várias espécies."

     O Dr. Sadler admite, então, que ele não tem sido capaz de descobrir a fonte, psíquica ou inconsciente, das informações que estavam sendo reveladas. O caso permanecia um malogro para ele.

     "Dezoito anos de estudo e cuidadosa investigação falharam em revelar a origem psíquica dessas mensagens. Encontro-me no presente momento exatamente onde eu estava quando comecei. Psicanálise, hipnotismo, comparação intensa, falharam em mostrar que as mensagens escritas ou faladas deste indivíduo têm origem em sua própria mente. Muito do material obtido através desse indivíduo é bastante contrário a seus hábitos de pensamento, à maneira na qual ele tem sido instruído, e à sua inteira filosofia. Na verdade, nós falhamos em encontrar em existência o que quer que fosse, da natureza de muito do que obtivemos. Seu conteúdo filosófico é bastante novo, e muitíssimo dele nós somos incapazes de encontrar onde alguma vez encontrou expressão humana."

     Observe-se o destaque científico pelo qual o Dr. Sadler encaminha seu caso. Em 1929, aparentemente ainda não tinha ele abandonado sua busca de encontrar uma explicação científica para o fenômeno.

     "Por mais que eu gostasse de relatar detalhes deste caso, não estou em posição de assim fazer no presente. Só posso dizer que eu descobri nesses anos de observação que todas as informações transmitidas através dessa fonte têm provado ser auto-consistentes. Conquanto haja considerável diferença na qualidade das comunicações, isso parece razoavelmente explicado por uma diferença no estado de desenvolvimento e na ordem das personalidades fazendo as comunicações. Sua filosofia é consistente. É essencialmente cristã e é, no todo, inteiramente harmoniosa com os fatos científicos conhecidos e com as verdades desta era. Na verdade, o caso é tão incomum e extraordinário que, até onde vai minha experiência, estabelece imediatamente por si mesmo uma classe própria, uma que tem até aqui resistido a todos os meus esforços para provar ser sua origem auto-psíquica. Nossas investigações estão sendo continuadas e, como tenho sugerido, espero alguma vez no futuro próximo conseguir permissão para um mais completo relato dos fenômenos ligados a este interessante caso5."

     O passo seguinte para o grupo de ministros parecia claro: Eles precisavam ir a Chicago e ter um encontro pessoal com o Dr. William S. Sadler, para discutir a origem dos Documentos de Urantia. O notável encontro teve lugar a 7 de maio de 1958.


Notas de Rodapé:

3 THE MIND AT MISCHIEF, de William S. Sadler, M.D., F.A.C.S.; Funk & Wagnall's Company, Nova York e Londres, 1929, página XI.
4 IBID, página 332.
5 IBID, páginas 382, 383, 384.